A Copa do Mundo não sofre, nunca sofreu, com o estigma de ser uma competição violenta. Muito pelo contrário. Mesmo em épocas de disputa pesada em outros torneios na Europa, ou na América do Sul, ou nos dois continentes, o espírito de briga, de deslealdade, de pancadaria, nunca prevaleceu na maior competição do futebol.
Houve, claro, lances isolados, individuais, de desentendimento ou agressão, mas não foram casos que alteraram o clima de qualquer edição da Copa. Um craque da estatura de Zidane, por exemplo, já deu uma cabeçada (com jogo parado) no italiano Cannavaro, na final de 2006. É assim: um ou outro episódio de exceção que, por isso mesmo, fica até guardado na memória. Mas não é mesmo o tom da competição.
Longe disso, a Copa do Mundo guarda uma aura de qualidade, de importância internacional, de cerimônia e respeito que esfria em certa medida os ânimos mais exaltados.
Logo esta Copa realizada no Brasil está quebrando, infelizmente, um pouco dessa tradição. Não que tenha havido brigas e pancadarias, não houve mesmo, mas os jogos estão sendo disputados em ritmo mais duro, com muito mais faltas, agarrões, empurrões, puxadas de camisa — atitudes que, aliás, não são (ou não eram) muito vistas, ao menos na Europa.
E — pior de tudo — com a condescendência e a tolerância dos árbitros, que, na minha lembrança, nunca se mostraram tão burocráticos e indiferentes em relação àquilo que a própria Fifa chama de “fair play” ou “jogo limpo”. Por sinal — vejam bem como é essa senhora —, foi ela própria,Dona Fifa, que aconselhou os árbitros a se pouparem na aplicação de cartões.
Será por isso que o fraco juiz espanhol Carlos Velazco Carballlo não mostrou a menor reação diante da falta violenta, desleal (pelas costas), de Zúñiga, que tirou Neymar da Copa do Mundo?
Não foi, aliás, um jogo típico desta nem de outra Copa qualquer. Foram, ao todo, 54 faltas — nada menos do que 31 do Brasil, e 23 da Colômbia. O Brasil, portanto, com mais 12 faltas do que o adversário, voltando a jogar no estilo de Felipão e das entrevistas com grosserias de Felipão.
É curioso o comportamento do treinador, à beira do campo. Ele reclama de todas as faltas do rival e não reclama de nenhuma das 31 faltas do seu time. Curioso, não? No mesmo dia, jogaram Alemanha e França. Juntas, as duas seleções cometeram 34 faltas, mais três apenas do que o Brasil sozinho.
O juizinho espanhol tolerou não só a entrada por trás de Zúñiga ,que quebrou a vértebra do Neymar, mas também a quantidade de faltas de um lado e de outro. A Fifa vai continuar tolerando também, ou vai dar valor a algo que ela mesma tanto recomenda, que é o “fair play” ou o “jogo limpo”?
Afinal, Dona Fifa prega a veracidade ou a demagogia?
Fonte: Fernando Calazans - http://oglobo.globo.com/esportes/copa-2014/indiferenca-da-fifa-com-arbitragem-13151561
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