sexta-feira, 30 de maio de 2014

Economia brasileira vai ganhar bem menos com a Copa do que o governo prometeu, apontam estudos.


A possibilidade da economia brasileira – que não vai bem das pernas, diga-se – ganhar uma grande injeção de ânimo (e dinheiro) a médio e longo prazo com a Copa do Mundo, que começa em duas semanas no País, parece cada vez mais irreal. É o que apontam dois estudos de instituições da área financeira do exterior, ambos direcionando suas análises para o governo federal brasileiro.
Se em 2010 um estudo encomendado pelo Ministério do Esporte e realizado pelo Consórcio Copa 2014 apontava para ganhos de R$ 183,2 bilhões por um prazo de cinco anos, dos quais R$ 47,5 bilhões seriam diretos, e outros R$ 135,7 bilhões indiretos, o quadro atual parece bem menos promissor. Até mesmo de outro levantamento, divulgado com alegria pela União em 2012, que apontava para um saldo positivo de R$ 142 bilhões.
De acordo com o relatório divulgado há duas semanas pelo banco alemão Berenberg e pelo Instituto de Economia Mundial (HWWI), de Hamburgo, os efeitos práticos e consistentes na economia brasileira no que diz respeito a ganhos sequer devem ser considerados. O documento aponta a Fifa como única beneficiária substancial da Copa, mas não estima os montantes exatos que o País e a entidade máxima do futebol podem esperar.
“Os efeitos econômicos positivos da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos são para os países-sede, na maioria das vezes, insignificantes. Mas, tais megaeventos podem servir de impulso para a modernização dos países”, disse o economista do Banco Berenberg, Jörn Quitzau. O economista Henning Vopel, do HWWI, completa. “As análises de custo-benefício realizadas antes de um evento como esse geralmente exageram quanto aos efeitos positivos”.
As instituições alemãs acreditam que o Brasil ainda falhou em atender aos seus próprios problemas, notadamente os de infraestrutura, perdendo a oportunidade de deixar um legado consistente para a população. Além de ganhos meramente secundários, o Brasil ainda poderia ter direcionado os cerca de R$ 30 bilhões investidos até aqui no Mundial para áreas como saúde e educação, conclui o estudo. Ainda assim, a Copa das Confederações representou um impacto econômico de R$ 20,7 bilhões, há um ano.
Para a Copa, a estimativa exagerada do governo federal já havia sido detectada no fim de março pela agência de classificação de risco Moody’s. Segundo ela, os elementos positivos da vinda de mais de 3,6 milhões de turistas para o Mundial poderiam sofrer um revés diante do número de dias trabalhados na indústria e no varejo do País, anulando assim o reflexo otimista na economia nacional. Ainda de acordo com a agência, o Brasil deve obter um crescimento de meros 0,4% do Produto Interno Bruto (PIB), por um prazo de dez anos, contados de 2010 a 2019.
Diante das perspectivas pouco impactantes na economia com a Copa, a própria presidente Dilma Rousseff tem enfatizado nos últimos meses os ganhos para a população brasileira, negando que, por exemplo, as obras em aeroportos sejam voltadas para o evento da Fifa, mas sim para o povo. Se a chefe máxima do governo brasileiro evita projeções, a Fifa trabalha com uma estimativa de lucro recorde de R$ 10 bilhões com a Copa.
Publicado: 
Thiago de Araújo

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